quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ato de Quatro / Atividade de extensão - Por Cristiane Barreto


Ato de Quatro - Atividade de extensão


Conheci o Ato na sua origem em 1996. Tanto Bertho Filho e Ney Wendel (idealizadores do projeto) foram meus colegas. O projeto Ato de Quatro é uma das mais importantes atividades de extensão da Escola de Teatro. Só que um projeto idealizado e executado por alunos, esta é a questão. Desde 1996 que a maioria dos professores, fecha os olhos para o referido projeto. Esta é a verdade. Raríssimas exceções. Apenas os professores que querem ficar bem na fita com os alunos ou com algum aluno prestigiam assistindo uma ou outra apresentação. Não se enganem. Participei como atriz e como diretora de algumas edições do Ato entre 1996 a 2000 e posso garantir: é umas das atividades mais importantes da Escola de teatro para os alunos de todas as áreas. Sem dúvida. Alunos diretores que não praticam, não experimentam, que não se arriscam sem um professor orientador (que muitas vezes nem orienta, desorienta), para mim vai passar a vida inteira na mediocridade, inseguro, se escondendo atrás de alguém como atores renomados, produtores, cenógrafos, figurinistas, lobby, etc. Pouco consegue evoluir e ousar. Tenho muitos exemplos, mas que não me cabe citar nomes. Não estou aqui para julgar ninguém. Mas passei longos anos na Escola de Teatro, o mínimo que se pode esperar é que tenha desenvolvido meu senso crítico e estético, não? Acompanho hoje de longe o projeto, mas por coincidência em um curso de especialização que faço, tive que fazer uma pesquisa sobre atividades de extensão na minha área, entrei em contato com a equipe atual do Ato.

No site desatualizado da Escola de Teatro o Ato é descrito desta forma: Espaço aberto à experimentação estudantil, o Ato de Quatro é uma apresentação teatral constituída de quatro cenas dirigidas por quatro diretores alunos a partir do 3º semestre, que inscrevem seus projetos de cenas para serem apresentados. Nestas cenas só podem participar alunos, ex-alunos ou professores da Escola de Teatro. O projeto ato de quatro acontece todas as segundas-feiras, às 19h00min h, na sala cinco. Devido às características e objetivos a que se propõe, trata-se de um projeto ligado ao Núcleo de Estudos do Teatro Popular.Pergunta: Que Núcleo é este? Existe mesmo? Segundo o próprio site:Núcleo de Estudos sobre Teatro Popular- NETPOPPesquisa expressões dramáticas do folclore, com espetáculos de cunho regional.Já a nova equipe do Ato ressalta que o Ato é uma atividade de extensão vinculada ao Departamento de Técnicas do Espetáculo.Bom, minha dúvida é: vinculado a um Núcleo que pesquisa Expressões dramáticas folclóricas? Será que é isso mesmo? Em um espaço experimental o aluno precisa ter liberdade expressiva. Não pode se limitar a uma linguagem ou estética. Por outro lado, o que verdadeiramente o Departamento de Técnicas do Espetáculo pensa sobre o Ato? O que ele faz pela manutenção e pela continuidade dos projetos? Será que todos os professores ligados a este Departamento refletem sobre a importância do Ato para os alunos ou só refletem sobre seus projetos acadêmicos e profissionais.

A Universidade é composta do tripé: Ensino, Extensão e Pesquisa. Atualmente o status é direcionado apenas para a pesquisa. Todos (com raríssimas exceções) correndo atrás de títulos e mais títulos com pesquisas muitas vezes sem nenhuma ligação com a realidade da prática teatral. Qualquer Universidade que se preza sabe que atividade de extensão é um credencial de excelência, somente universidades com história e altos índices de qualidade no âmbito da pesquisa e do ensino podem repassar à comunidade externa, em forma de serviços ou ensinamentos, o conhecimento acumulado em todas as áreas. No caso do Ato, além de favorecer a comunidade interna (alunos, professores, etc.), favorecem também a comunidade externa com formação de platéia, através de ingresso gratuito facilita o acesso de público diverso ampliando assim o diálogo. Enfim, sou fã do Ato. Espero que as novas gerações saibam lutar para mantê-lo. É o espaço democrático mais garantido para a prática teatral do aluno na Escola. Seria bom neste espaço a presença de professores e profissionais de fora da Escola para uma troca sadia de informações, mas o individualismo de muitos não sei se os levaria para uma "modesta" sala discutir idéias, conceitos, estéticas, etc. Acho que nada é impossível, mas também já não sou mais ingênua neste sentido. De qualquer forma, sou positiva. Precisamos acreditar em algo para seguirmos nossas empreitadas artísticas.



Sobre a autora:

Cristiane Barreto...Relva é bacharel em Interpretação Teatral e Licencenciatura. Nesse momento está acabando a pós-graduação (especialização). Atualmente sua atuação profissional é em Direção e Arte-Educação (como Arte-educadora em 3 Colégios particulares: Miró, Mendel e Vitória Régia - Ensino Fundamental e Médio). Graças ao Ato e sua própria determinação ela teve a possibilidade de experimentar Direção quando era aluna de Interpretação. "Isso para a Escola é quase um pecado capital. Pelo menos era. Vc entra para fazer licenciatura só pode fazer coisas ligadas a licenciatura e a mesma coisa com Interpretação e Direção. Tive uma formação bastante diversificada com ênfase na prática teatral. Fiz de tudo: Assistente de direção de espetáculos, dirigir, operei luz e som, por 2 anos fui professora do OPA (Oficina de Preparação do Ator antigo curso de extensão), fui atriz, fiz produção, enfim, fiz tudo o que todos os alunos deveriam fazer em uma Escola de Teatro, experimentar um pouco de tudo."

Cristiane, o Ato de 4 agradece sua participação. Seja sempre bem vinda!


Um comentário:

Unknown disse...

Eu comcordo com os comentários de Cristiane sobre o Ato de 4.
deveria haver maior participação de professores e pesquisadores nessa atividade, para auxiliar e cooperar com os alunos que utilizam esse espaço para suas experimentações, para exercitar suas habilidades durante sua graduação ou pós graduação.
Eu opinaria também que a Escola de Teatro, como um dos mais importantes espaço das Artes Cênicas não só da Bahia, mas do País, por terem passado por ela grandes nomes do Teatro Brasileiro, deveria estar aberta a outros tipos de manifestação cultural, mesmo que seus participantes não pertençam a seus quadros docente e/ou discente.